VENTOS
LOCAIS
Certos
ventos, que não são perturbações independentes mas fazem parte de movimentos
maiores de ar, adquirem propriedades características nalgumas regiões e, por
isso, recebem, às vezes, nomes especiais. Serão discutidos rapidamente nesta
abordagem alguns desses ventos.
Ventos Locais Significativos. Os ventos que sopram
de certas direcções, com certas características, em diversas partes do Globo,
são conhecidos por nomes populares. Nem sempre apresentam interesse
meteorológico, porém, alguns apresentam propriedades especiais dignas de nota.
Dos mais importantes salientam-se o foehn ou chinook, o sirocco, o bora, o
harmattan, o mistral, o “norther”, o pamperro, o ghibli, o levante, a nortada,
a tempestade de areia e a
tempestade de neve. Tais ventos adquirem características especiais, devido à
situação geográfica, à topografia local e mesmo devido às condições da
superfície da Terra.
Levante. O Levante é um vento quente de
este. O anticiclone do Atlântico Norte posicionando-se na sua posição
setentrional extrema, dirige os ventos de norte/este sobre a Península Ibérica
(foehn), que se desviam para Este junto ao Estreito de Gibraltar. Ocorre durante
o verão e em Portugal faz-se sentir na região do Algarve.
Foehn. O Foehn é um vento de rajadas moderadas a
fortes, quente e seco, que ocorre a sotavento de um grupo de montanhas no
sentido descendente da encosta. O nome é originário dos Alpes mas actualmente é
usado como um termo geral para este tipo de vento. O seu deslocamento é
resultado da diferença de pressão, verificada nos dois lados da montanha. No
lado sobre o qual o vento sopra a pressão é relativamente alta e o ar é forçado
a elevar-se sobre a montanha, com uma consequente expansão e arrefecimento na
razão adiabática seca, seguida pela condensação e arrefecimento retardado. No
lado oposto há descida do ar, compressão e aquecimento adiabático, ao longo de
toda a descida. Em consequência,
quando o ar atinge o mesmo nível no qual iniciou a subida no lado oposto, está
mais seco e quente. Os ventos desse tipo são locais e intermitentes. São
especialmente comuns no lado norte dos Alpes, na Suíça, onde são chamados de
ventos foehn. A explicação clássica do calor do foehn era que este era devido à
condensação e perda de vapor de água por precipitação causada pela ascensão
forçada no lado de barlavento. A temperatura potencial do termómetro molhado
permaneceria constante, mas o ar, para sotavento, tendo perdido muito de seu
vapor deveria ter uma temperatura do termómetro seco muito mais alta.
Pensa-se, agora, que este processo representa, no máximo, uma consequência.
a. Muro Foehn. Associado ao efeito de foehn, forma-se
frequentemente uma massa de nuvens precipitáveis por cima das encostas a
barlavento das colinas. As nuvens prolongam-se pela encosta mas evaporam na
corrente descendente, terminando ao longo de uma linha paralela ao cume
principal das montanhas.
b. Chinook. Na Califórnia, na vertente oriental das
Montanhas Rochosas (Wyoming e Montana), existe um vento tipo foehn localmente
chamado de chinook. É um vento seco soprando de terra, podendo ocorrer durante
todo o ano. A sua chegada é normalmente súbita, com uma, consequente,
subida da temperatura e rápido descongelamento de neve. Há, com frequência, um contraste nítido
entre o ar que forma esses ventos e o ar ambiente, principalmente no inverno, e
os chinooks podem fazer com que uma camada espessa de neve desapareça
rapidamente por fusão e evaporação.
Bora. O Bora é um vento frio de nordeste,
frequentemente muito seco que desce das montanhas na costa ocidental do
Adriático, soprando por vezes com rajadas violentas. É mais forte e mais
frequente no inverno (Dezembro a Março) e na parte norte da costa. Acontece
quando a pressão é alta sobre a Europa Central e os Balcãs e baixa sobre o
Mediterrâneo. Se esta situação está associada a uma depressão sobre o Adriático,
o Bora é acompanhado por nuvens bastante desenvolvidas e chuva ou neve. O termo
também é aplicado a ventos frios descendentes por encostas, noutras partes do
mundo.
Mistral. O Mistral é um vento de
nor-noroeste ou de norte que sopra perto da praia ao longo da costa norte do
Mediterrâneo desde o Delta do Ebro até Génova. Na região principal do seu
desenvolvimento as suas características são a frequência, a força e ser frio e
seco. É mais intenso nas costas de Languedoc e Provence, especialmente dentro e
fora do delta do Rhône. Na costa,
as velocidades são, aproximadamente, 40 km/h mas no vale do Rhône foi alcançada
uma velocidade superior a 75 km/h.
“Norther”. Um dos mais famosos ventos das regiões
do centro e sul dos Estados Unidos, México, Panamá e Caraíbas, é o “Norther”. É
um vento frio e forte, que sopra do norte no inverno (Outubro a Março), causado
pelo rápido avanço de um anticiclone polar. A sua chegada é acompanhada por
quedas rápidas de temperatura de, às vezes, 11º C a 18º C numa hora, seguida de
neve ou chuva. Os "Northers" severos são vulgarmente chamados de “ondas de
frio”. "Northers" severos costumam trazer
condições de gelo, e consequentes danos à indústria cítrica da costa do Golfo e
do Vale do Rio Grande. Um vento semelhante ocorre na América do Sul, e é chamado
de “Pamperro”.
Pamperro. Pamperro é o nome dado na Argentina e no
Uruguai a uma tempestade severa de vento, às vezes acompanhada por chuva,
trovões e raios. Ocorre ao longo do Rio da Prata de Julho a Setembro. É uma
linha de instabilidade, com nebulosidade típica ao longo da sua frente. Existe
um gradiente (térmico e de pressão) muito grande junto à face sul do anticiclone
do Atlântico Sul, quando da passagem das depressões de oeste para este. Há uma
grande descida da temperatura à passagem da tempestade.
Ghibli. O Ghibli é um vento quente e seco de
sul e sudeste que ocorre na primavera ou verão na zona de Tripoli. Transporta
grande quantidade de poeira diminuindo consideravelmente a visibilidade. É o
sirocco que toma características de foehn ao descer de Djebel antes de atingir
Tripoli.
Tempestade de Neve (“blizzard”, na
América). A
tempestade de neve é constituída por um vento frio e violento (normalmente um
“norther”), acompanhado de neve que ele levanta do solo. A neve consiste em partículas finas e
secas que são levadas pelo vento em tal quantidade que reduz a visibilidade a
poucos metros. Essas partículas são tão finas e em tal quantidade, que tomam a
aparência de nevoeiro. Esse tipo de vento é, oficialmente, caracterizado por
velocidades mínimas de 32 Kt, acompanhado por temperaturas abaixo de –20º C e
por tanta neve em suspensão no ar, quer sendo soprada, quer em queda livre, que
reduz a visibilidade a menos de 500 metros e, ocasionalmente, a zero. Tem sido
verificado na Antárctica, com velocidades entre os 75 e 100 Kt.